Teca Miguel Garcia, mais conhecida como Titica, é uma cantora transexual angolana que se tornou um ícone do estilo kuduro em Angola, sendo nomeada "Melhor Artista de Kuduro" do ano de 2011.[1]
Titica, uma das mais controversas e amadas cantoras Angolanas, chega a Portugal com um novo single que conta com a participação de Osmane Yakuza Considerada uma das artistas mais interessantes de África pelos prestigiados KORA AWARDS, e referida ao jornal “The Guardian” pela genial artista internacional, Bjork, como uma das suas influências musicais, esta mulher, que alia uma enorme força e uma carismática personalidade a um optimismo inabalável, chega a Portugal para apresentar o seu novo single “Docadó”, com um vídeo onde o furacão Titica surge numa fusão do seu inconfundível kuduro com o coupé décalé da Costa do Marfim.Surpreendentemente tímida
Em outubro passado, lançou sua primeira canção, "Chão", uma das faixas mais tocadas da história do kuduro. Este mês, a cantora embarca em sua primeira turnê internacional, com shows em Portugal, Grã-Bretanha e Estados Unidos.
É provavelmente a artista mais controversa do mercado musical em Angola. Entre altos e baixos, a sua história de vida comoveu e gerou polémica no seio da população angolana já que ela é a primeira artista em Angola que optou por mudar de sexo: de homem para mulher devido à sua identidade de género.
Titica, cantora do estilo mais popular entre os jovens, o “Kuduro” esteve na Rádio Luanda para falar a verdade e desmentir alguns boatos que envolveram o seu nome e ainda despertam curiosidade entre os seus fãs...
Ticni, como é tratada pelos seus amigos, começou primeiro por falar do seu novo trabalho que já está a ser preparado. Sem adiantar o nome e a data do lançamento do CD, garantiu que o seu segundo álbum terá dez faixas musicais, com diversos estilos entre eles Zouk, Tarrachinha e o Kuduro.
Em relação à sua forma de estar e conviver com as pessoas, a artista disse ser "aquela que aguenta e não tem medo de nada." Admitiu ainda já ser uma transexual, revelando ter feito várias alterações ao seu corpo para hoje estar como está.[2]
Sem papas na língua a carismática "Ticni" não teve problemas em falar sobre os seus relacionamentos amorosos dizendo que não tinha razões para ser solteira, porque "há sempre um na cola dela". Contudo pensa em casar um dia como qualquer mulher, garantindo que quando chegar o seu momento, o seu casamento será algo inesquecível e ficará na história .
Músicas
- Olho Boneco
- Ablua
- Estou na Parede
- Kiwi De Pole
- Procura o Brinco
- Me beija na boca
- Abaixa
- Zonga
"Consegui entrar na casa das pessoas através das crianças. Elas são meus anjos."
Considerada a rainha do kuduro e já citada como referência por Björk, Titica conta ter sido a primeira artista de Angola a assumir sua transexualidade, aos 17 anos. "Tive medo. Não foi fácil e não é até hoje. Tem certos lugares em que não canto", diz.
Seu carisma e a popularização do gênero, antes marginalizado, também foram determinantes para vencer o preconceito. "Hoje, quando falam em dez boas artistas angolanas, meu nome está lá no meio e fico feliz por isso."
Bahia e Angola
O kuduro nasceu nos guetos de Luanda e, por muito tempo, foi associado ao crime, segundo a cantora. A sonoridade tem referências de rap, funk, house e eletrônica. As letras, geralmente cantadas em português, podem falar de amor, sensualidade, sofrência ou protesto.
As coreografias também são importantes. Titica já emplacou, entre outras, "Chão chão", "Olha o boneco", "Procura o brinco" e "Estou na parede".
No Rock in Rio, esse ritmo vai se juntar nesta sexta (22) às batidas da Baiana System, banda que é queridinha da nova música de Salvador. O grupo e a cantora - que foi bailarina e já dançou no carnaval da Bahia - gravaram juntos "Capim Guiné". A faixa, que também tem a participação de Margareth Menezes, será apresentada ao vivo no palco Sunset.
Na entrevista abaixo, Titica fala sobre os elementos que aproximam Bahia e Angola, a história do kuduro e a falta de intercâmbio cultural entre o Brasil e seu país. Também conta como é ser uma artista trans em uma nação que rejeita homossexuais.
G1 - O que aproxima o seu som e o da Baiana System?
Titica - A parte eletrônica. As músicas deles são mais eletrônicas, tem mistura de rock, e isso tem muito a ver com o kuduro. As duas coisas casam.
G1 - Você gravou com a banda a música "Capim Guiné", que foi feita pelo Russo Passapusso [vocalista da Baiana System]. Como deu sua cara à faixa?
Titica - A música já estava pronta quando ele mandou. Vou confessar que não é bem a minha praia cantar músicas com letras assim, mais engajadas. Sou de músicas mais safadas, na linguagem certa. Mas foi bom. Gostei da batida, é uma nova experiência.
G1 - Como será o clima desse encontro no palco?
Titica - A química entre nós foi boa, graças a Deus. O mais importante é a boa química. No palco, vamos deixar fluir. Sei que vai ter boa coisa. Vai ter muito kuduro, até o chão. Não sou muito de falar, gosto mais de fazer.
G1 - Você é sempre citada como a primeira artista assumidamente transexual do seu país. Isso é verdade? Como foi se assumir?
Titica - É verdade sim. No início não foi fácil, tem preconceito e tudo isso.
"Eu sempre lutei para me impor, para impor respeito. Sempre vivi minha vida. E, graças a Deus, sou uma artista carismática. A maioria dos meus fãs é formada por menores de idade e pessoas mais velhas."
Tenho essa proteção das crianças. Consegui entrar na casa das pessoas através das crianças. Elas são meus anjos.
G1 - Você já teve medo que o preconceito prejudicasse a sua carreira?
Titica - Tive. Não foi fácil e não é até hoje. Tem certos lugares em que eu não canto. Mas, hoje, quando falam em dez boas artistas angolanas, meu nome está lá no meio e fico muito feliz por isso. Tive de lutar, me impor, não fazer frente à ninguém, fazer bem meu trabalho. Sempre tive foco e hoje sou respeitada.
G1 - Acha que a intolerância tem diminuído?
Titica - Tem diminuído muito. Há lugares em que eu não cantava e hoje em dia já canto. Há pessoas que não me aceitavam.
"As pessoas associavam minha sexualidade à minha música. Passaram a separar, a conhecer. Muita gente julgava sem conhecer. O respeito agora é outro."
G1 - O Brasil e a Angola falam a mesma língua, mas o intercâmbio cultural entre os dois países é pouco. Na sua opinião, por que isso acontece?
Titica - Tinha mesmo que haver mais intercâmbio cultural. O povo brasileiro é muito por ele mesmo, dá mais valor às suas coisas. E tem que ser assim. Mas temos que fazer mais intercâmbio, assim aprendemos mais com o povo brasileiro e eles aprendem conosco.
Mesmo assim, há muitos brasileiros que tem ido a Angola para dividir o palco com a gente. Alcione, Roberta Miranda… Também já foram Roberto Carlos, Alexandre Pires e Belo, que é muito querido por lá.
G1 - O kuduro é o pop da Angola?
Titica - É sim, é um gênero muito, muito ouvido. A princípio, foi muito criticado. Poucas mulheres faziam kuduro e os rapazes que faziam eram considerados marginais.
"Os que estavam na vida do crime viam o kuduro como uma forma de libertação. Eles ficavam famosos e abandonavam a má vida porque conseguiam ter o pão de cada dia. "



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